
Você sabia que um Manual de Tom de Voz pode melhorar – e muito – a forma como a sua mensagem será recebida? Pois é.
Parece loucura, mas – talvez – pela primeira vez, podemos falar que o mercado está se desenvolvendo para melhorar a sua experiência, e não para te obrigar a se adaptar a algo. Tudo está resumido na Experiência do Usuário, ou UX, na tradução do termo em inglês.
Dentro dessa quase “filosofia” de trabalho, temos diversos profissionais, metodologias e estratégias aplicadas para entender o que você, como usuário de um produto, precisa para utilizar aquele sistema da maneira mais tranquila e com o mínimo de esforço possível.
Tudo isso é englobado ao visual das telas, disposição e hierarquia das informações, ilustrações, cores e claro, aos textos (ou microtextos) com descrições e instruções funcionando em perfeita harmonia para te ajudar a resolver um problema ou cumprir uma função.
E, obviamente, o tom de voz é algo fundamental dentro desse cenário.
Afinal, é por meio da voz que conseguimos identificar o estado de espírito, as emoções, os condicionamentos e outros aspectos psicológicos associados à troca de mensagens entre as pessoas.
Por isso, mais do que escrever corretamente ou te ensinar a montar um Manual de Tom de Voz, vamos te ajudar a escrever para o público correto. E ainda separamos uma dica extra. Vem ver!
Diferentes, diversas e muitas maneiras de falar
Eu vim da publicidade e durante minha carreira escrevi alguns Manuais de Tom e Voz para diferentes marcas e públicos. Mas só agora como UX Writer é que eu posso dizer que entendo melhor como falar diretamente para quem vai ouvir, tem um impacto enorme no produto.
Antes disso, estudei e trabalhei com jornalismo, e como vocês devem saber, cada veículo escreve e fala com um público diferente. Ler um texto no Valor Econômico, por exemplo, pode ser uma experiência completamente diferente da leitura de um texto na Folha de S. Paulo, mesmo que ambos sejam sobre um mesmo assunto.

Mas, por quê é tão diferente? Por mais que todos os textos sejam escritos pensando em uma demografia e um público, eles ainda devem ser generalistas e alcançar o maior número de pessoas possíveis, e sempre com o objetivo de ativar um desejo de consumo (seja a compra de um item ou fazer com que você leia uma notícia). Já no UX, os textos são voltados para tornar aquela experiência de uso mais intuitiva.
E como aplicar tudo isso em um Manual de Tom e Voz para o produto em que estou trabalhando? Calma, pequeno padawan. Eu separei algumas dicas em 3 etapas para te ajudar no desenvolvimento desse processo.
Vamos começar?

Antes de escrever um Manual de Tom de Voz, conheça o seu produto
Existem algumas perguntas que você, como parte do time de UX Design precisa saber responder:
- Quais os valores do seu produto?
- Qual problema ele pretende resolver?
- Quem eu quero que use esse produto?
Dependendo do produto em que você estiver trabalhando, podem ter mais algumas, como: “Eu preciso incluir essa tela, ou posso deixar tudo em uma tela só?”, ou “Por quê meu produto resolve essa questão de forma x e não y?”.
Aqui, o principal ponto é entender a fundo o produto que você está desenvolvendo e como a usabilidade dele está sendo usada para guiar o usuário.
Conheça o seu público
Pode parecer óbvio falar isso, mas conhecer o seu público é muito mais do que saber se a maioria consiste em homens ou mulheres ou a qual faixa etária eles pertencem. Por isso, o principal instrumento de um UX Writer para desenvolver um bom Manual de Tom de Voz é realizando entrevistas com consumidores reais e stakeholders.
O objetivo dessas entrevistas é entender como eles se sentem em relação ao produto e as soluções apresentadas. Para isso, existem algumas perguntas-chave que você pode incluir no seu roteiro, como:
- Quais as 3 palavras que você usaria para descrever sua empresa/produto?
- Se a sua empresa ou produto fosse uma pessoa, como você descreveria a personalidade dela?
- De acordo com a sua experiência pessoal, quais os próximos passos que a empresa/produto deve tomar?
- Me diz uma qualidade e um defeito na maneira como você enxerga a produto/empresa hoje.
É claro que você pode e deve alterar, incluir ou modificar essas perguntas da maneira como achar melhor para tornar a entrevista mais fluída e fazer com que esses questionamentos se encaixem ao seu produto, mas essas perguntas costumam dar um bom direcionamento e revelar alguns insights que nem você nem a equipe tinha previsto.
Pesquise
Pode até parecer uma chuva no molhado falar sobre pesquisa, afinal, a gente estuda, pesquisa, aplica e pesquisa novamente quando trabalhamos com desenvolvimento de produtos, mas no caso do desenvolvimento de um Manual de Tom de Voz, essa pesquisa é um pouco diferente e pode ser MUITO ampla.
Por exemplo, se o seu produto é voltado para o mercado financeiro, além dos jargões próprios, como “fazer um Pix”, você pode encontrar algumas surpresas nos comentários que seus usuários postam nas redes sociais, e até nas avaliações das lojas de app.

O usuário pode te dar dicas preciosas como essa, em que ele aponta para o “risco” de facilitar demais o contrato de um empréstimo na tela de um aplicativo.
Dica extra: Documente!
Depois de todo esse processo de pesquisa, entrevista, discussões com o time e absorção, vem a materialização desse conteúdo. E aqui, separei alguns tópicos que você pode abordar ao escrever o Manual de Tom e Voz para te guiar no desenvolvimento:
- Introdução: Qual o objetivo desse documento e por quem ele foi feito?
- Atualizações: O que foi incluído ou retirado das últimas versões?
- Persona e Arquétipo: Quem é o seu público e quem é o seu produto? Por que ele se comunica dessa maneira e para essas pessoas?
- Como escrevemos: Seu produto fala na primeira pessoal do plural? Como você formata horários e datas?
- Gramática: Quais os erros mais comuns cometidos por quem escreve nos produtos?
- Glossário: Qual o significado dos principais termos específicos usados no seu produto?
Espero que esse texto te ajude a escrever e compreender a importância de um Manual de Tom e Voz na escrita e usabilidade de qualquer produto. É importante lembrar que nenhuma das dicas aqui são regras absolutas, você pode e deve adaptar tudo de acordo com o que o seu produto, público e objetivos precisarem.
Se você se interessar pelo assunto, pode consultar os links abaixo para se aprofundar mais:
Repositório de UX Writing (notion.so)
Writing na Conta Azul · Guia de Redação
Voz & Tom | aTon Design Language
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